Para Andrei Mosman, ser Profissional Autônomo Permite ter Rotina e “Trocar de Vista”

Paulista de Tupã programa computadores desde os 14 anos e construiu sua carreira na área de TI remotamente, viajando pelo Brasil e América do Sul
Desde cedo a mudança fez parte da vida de Andrei Mosman, 38 anos, paulista nascido em Tupã (SP). Seu interesse por tecnologia despertou quando ainda era criança e, aos 14 anos, começou a programar computadores para empresas da cidade. Quando fez 18 anos, já havia desenvolvido uma solução para provedores de internet e passou a viajar pelo Brasil oferecendo seus serviços.
“Passei praticamente a vida toda atuando como profissional autônomo. Tive poucos empregos de carteira assinada, sendo que em um deles fiquei durante um ano e meio morando no Rio de Janeiro. Foi um projeto bem legal de B2B (business to business), que integrava 16 bancos parceiros”, conta.
Como PJ (Pessoa Jurídica), Andrei passou por várias cidades do Paraná, de São Paulo e até Rio Grande do Norte e prestou serviços para grandes empresas, como Embratel e Intelig Telecom. Para ele, a principal vantagem de trabalhar por conta própria é, sem dúvida, a flexibilidade. “Ter uma rotina, mas escolher de onde trabalhar, podendo trocar de vista sempre que quiser é uma ideia que me agrada muito”, destaca.
Disciplina
Como tudo na vida, ser um profissional autônomo tem dois lados. “Não podemos nos iludir achando que tudo é tão livre assim. As contas para pagar chegam na mesma regularidade de um trabalhador formal e também é preciso se encaixar no horário do seu cliente, afinal, é ele que permite que você mantenha seu estilo de vida”, alerta Andrei.
A questão da disciplina também tende a ser mais desafiadora para os freelancers. “Há algum tempo, deixei de assistir a séries no Netflix, por exemplo. A televisão também não faz parte da minha vida, pois são hábitos que nos distanciam da produtividade”, afirma.
Outra dica que o analista de sistemas dá para quem quer trabalhar de forma independente é diminuir as demandas. “Quanto menos a gente precisa para viver, mais flexibilidade temos. O minimalismo está aí provando isso e ganhando cada vez mais adeptos”, diz.
Autodidata
Andrei não chegou a cursar uma graduação na área de Tecnologia da Informação (TI). Autodidata, praticamente tudo que aprendeu foi por conta própria e colocando a mão na massa. “Como comecei a programar muito cedo, quando cheguei na idade de ir para a faculdade já atuava na área há pelo menos quatro anos e estava viajando para outras cidades e atendendo clientes”, explica.
Mesmo assim, o estudo sempre foi presente na sua vida. “Estou sempre me atualizando, fazendo cursos on-line e alguns presenciais, vendo tutoriais e conversando com amigos que também trabalham com tecnologia”, diz. Por exemplo, no momento, ele conta que está estudando a nova linguagem oficial do sistema Android, chamada Kotlin, para desenvolvimento de aplicativos.
O programador ainda ressalta que o networking é fundamental na área. “Só assim você consegue entender como está a dinâmica do mercado e quais são as tendências que estão por vir”, completa.
Outras aventuras
Depois de muitos anos atuando na área de TI, o analista de sistemas conheceu o pôquer online. Ele começou a se aprofundar no jogo – que já é reconhecido como esporte da mente – e deixou a programação um pouco de lado. “Fiquei nove anos jogando pôquer profissionalmente e cheguei a criar um time. Mas no ano passado, acabei voltando para o TI”, conta.
Seu objetivo, agora, é continuar com a programação e atuar como redator freelancer. “Quando não estou me deslocando para outras cidades, o TI é muito bom, tem um valor-hora que eu considero justo. Mas é preciso uma certa infraestrutura mesmo para trabalhar remotamente. Por isso, quando estou na estrada, foco em escrever para sites, blogs e revistas”, diz.
Em 2014, ele fez uma viagem em seu Fusca 1980 pelo Uruguai. No ano seguinte, colocou o carro na estrada novamente até Buenos Aires, onde ficou por um mês antes de sair em tour pela Argentina, totalizando, nas duas viagens, mais de 12.000 quilômetros em quase quatro meses.
Este ano, Andrei saiu de bicicleta de São Pedro (SP) e pedalou por 900 quilômetros até Campo Grande (MS). Depois, pegou carona até Corumbá (MS). De lá, embarcou no famoso “Trem da Morte”, que o levou para a cidade de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Por fim, chegou de ônibus em La Paz, capital do país. Ao todo, a aventura durou três meses. “Durante todo esse tempo, trabalhei remotamente, tanto escrevendo como atendendo na área de TI”, afirma.
Projetos para o futuro
No momento, Andrei está morando em São Pedro, a cerca de 200 quilômetros da capital paulista. “Tenho duas filhas que moram em São Paulo e, assim, consigo ficar mais perto delas”, diz. Sobre seus projetos para o futuro, o programador afirma que quer aumentar sua atuação no TI e investir no espaço de coworking que montou na cidade.
“Acho desafiador programar, eu curto trabalhar com infraestrutura, com servidores e me identifico bastante com a área, principalmente, porque acho muito legal esse lance de resolver problemas”, ressalta.
Sobre o espaço de coworking, que recebeu o nome de “Casa da Vó Landa” (www.facebook.com/casadavolanda), o analista conta que vai além de um escritório compartilhado. “De segunda a sexta-feira, por exemplo, estamos servindo almoço vegetariano com contribuição voluntária, ou seja, cada um paga do jeito que pode. O objetivo é desenvolver o senso de comunidade por meio da reconexão com o alimento e da interação com as pessoas”, afirma.
O espaço está crescendo aos poucos. Andrei conta que dois voluntários estão chegando para ajudar, um do Rio de Janeiro e outro da Colômbia. “Atualmente, podemos receber cinco pessoas para ficar aqui e trabalhar remotamente, mas temos outros planos em vista. A garagem está sendo transformada para virar uma área de práticas de meditação e ioga”, acrescenta.
A ideia para a criação da “Casa da Vó Landa” surgiu de suas viagens. “Conheci lugares com propostas semelhantes e quis oferecer esse tipo de opção para outros viajantes e profissionais autônomos. Depois que esse projeto tomar mais forma, vou poder pensar em outras viagens que quero fazer. Uma delas é percorrer o caminho de Santiago de Compostela [Espanha] e outra é ir até a Bolívia de carro”, conclui.
“Não podemos nos iludir achando que tudo é tão livre assim. As contas para pagar chegam na mesma regularidade de um trabalhador formal”
Você também vai gostar de ler: Da Pré-História ao Futuro da Internet Brasileira
Por Mariana Pacheco – Revista Empreende