Os Desafios de Camila no Mercado (ainda) Masculino da Programação

Após viver a experiência de ser a única mulher no curso de Ciência da Computação, Camila Achutti criou escola com aulas de tecnologia em que mais da metade dos alunos formados são do público feminino.
Em um mercado em que apenas 17% dos programadores são mulheres, segundo relatório de 2018 da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a paulista Camila Achutti, de 27 anos, faz questão de nadar contra a maré. Em 2010, quando entrou no curso de Ciência da Computação da USP, se viu a única garota em uma sala tomada por homens. Um dia, pesquisando no Google, resolveu digitar o termo “mulheres na computação” e não achou nada. Pronto, estava ali o domínio que precisava para lançar um blog e começar a jogar luz sobre o assunto. “Era preciso criar um canal para discutir este tema, fazer o setor se tornar mais aderente a este assunto”, diz Camila.
Graduação concluída, ela iniciou a carreira acadêmica, teve a oportunidade de trabalhar fora do País, mais precisamente no Vale do Silício, a meca da tecnologia encravada no meio da Califórnia, mas não estava feliz. “Sentia que minha vida não estava lá, onde quase todos os problemas estão resolvidos, enquanto que aqui, ainda há muito o que fazer, há muito o que melhorar nas comunidades por meio da tecnologia. Não foi uma opção, mas um reconhecimento de que aquilo realmente não me faria feliz”, relembra.
De volta ao Brasil, Camila foi trabalhar em uma universidade particular, a Fiap, e no contraturno desenvolvia trabalhos de programação para uma ONG norte-americana com atuação em terras brasileiras. Depois disso, montou com o sócio Felipe Barreiros a Ponte 21, uma agência de softwares e, em 2015, fundou a Mastertech, uma escola de habilidades para o século 21, com cursos de tecnologia focados especialmente no público feminino. Em quatro anos, a escola de Camila e Felipe formou mais de 15 mil alunos, sendo que 62% deste grupo são mulheres.

O que é a programação de computadores?
Segundo o blog ‘DigitalDev’, uma linguagem de programação “é um
método padronizado para expressar instruções para um computador,
ou seja, é um conjunto de regras sintáticas e semânticas usadas para
definir um programa de computador. Uma linguagem permite que um
programador especifique precisamente sobre quais dados um computador
vai atuar, como estes dados serão armazenados ou transmitidos
e quais ações devem ser tomadas sob várias circunstâncias.”
Em seu blog ‘Mulheres na Computação’, Camila Achutti explica que
mesmo quem não tem conhecimento de programação consegue, por
exemplo, desenvolver um app. “Todos os aplicativos ou projetos tecnológicos
começam com um lápis e uma folha de papel. Essa é a parte
mais difícil: decidir cada uma das telas, onde os botões vão ficar, o que
vai ter no formulário, qual a primeira tela… Programar é a parte fácil,
ainda mais com todas as ferramentas que temos hoje disponíveis.”
Mulheres na Computação
“Para mim é um motivo de luta tentar representar as mulheres e abrir espaço para que tantas outras venham e contribuam para colocar uma cara mais representativa do País nesta área tão forte e que está moldando o futuro.Especialmente na área da computação, a maior dificuldade para as mulheres é que nós temos que empreender por falta de opção, e não por oportunidades. É um mercado com estereótipo de homens e no qual meninas não se vinculam, então é preciso quebrar barreiras e fazer as mulheres ascenderem neste contexto”, avalia.
Para Camila, a principal dica para as mulheres neste mercado é não ter medo. “As características femininas têm muito a contribuir para um contexto de tecnologia mais humana, para um futuro mais realista e mais desejável. As mulheres precisam entender que programação é apenas uma linguagem e, se dizem que somos boas na área de humanas, nos daremos muito bem também em tecnologia”, aconselha.
‘É preciso criar cidadãos
ativos dentro da
sociedade da informação’
Além de representar as mulheres em um mercado
marcado pela presença masculina, Camila Achutti
levanta outra bandeira, a da necessidade de se ensinar,
desde cedo, os conceitos de programação às
pessoas. “A programação é um meio e não um fim.
É preciso ensinar as pessoas a serem ativas dentro
do contexto de uma sociedade da informação. É
um direito da pessoa saber como funcionam as coisas
na sociedade onde ela está inserida. Sem este
conhecimento, as pessoas não entendem muito
bem as decisões que estão tomando, tornando-se
analfabetas digitais”, avalia. Para que este cenário
torne-se realidade, Camila acredita que é urgente a
criação de políticas públicas sobre o assunto, criar
impactos e assegurar laboratórios e investimentos.
“A partir do momento em que se vivem mudanças
digitais e tecnológicas, ao não saber programação,
a sociedade está se moldando e você deixa de ser
ativo dentro deste molde”, finaliza.
Para conhecer mais o trabalho de Camila Achutti clique: Mulheres na Computação e Mastertech
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