
Drones, nano satélites, inteligência artificial. Tudo isso já é realidade no campo brasileiro e, com barateamento de equipamentos e melhor conectividade, pode beneficiar também os pequenos e médios produtores rurais, diz o engenheiro eletrônico Lúcio André de Castro Jorge
Filho e neto de pequenos e médios produtores rurais, trabalhar com as coisas ligadas ao campo foi o caminho natural para o engenheiro eletrônico Lúcio André de Castro Jorge. Nascido em Barretos (SP), foi por lá que fez a graduação, aliando a um estágio na Embrapa Instrumentação, em São Carlos, onde também concluiu seu mestrado pela Universidade de São Paulo, na área de computação gráfica aplicada a imagens. Depois veio o doutorado explorando a captura de imagens aéreas com drones para uso na agricultura. “A Embrapa foi o grande berço para desenvolver equipamentos e desenvolver a linha de softwares, principalmente softwares embarcados para processamento de imagens em drones. Ultimamente os drones viraram o grande boom, mas quando ocorreu o avanço desta tecnologia, a gente já estava aí como precursor na área”, avalia Lúcio.
Depois de viajar por mais de 20 países para especialização profissional, o engenheiro hoje é professor em cursos de mestrado na Universidad Mayor e na Universidad de Chile, onde orienta temas nas áreas de teledetecção com uso de aeronaves não tripuladas. Na Embrapa Instrumentação, onde atua há 28 anos, seu foco é no desenvolvimento de softwares de imagem e comunicação e, principalmente, no uso de drones no agronegócio.
“O agro está em ebulição, as tecnologias estão avançando bastante, principalmente tecnologias da inteligência artificial, do blockchain, da agricultura de precisão, drones, processamento de imagens e visão computacional. O que a gente tem dificuldade ainda é a conectividade. O agricultor precisa das máquinas conectadas, de dispositivos conectados, e em nosso campo hoje, no Brasil, grande parte das unidades produtoras não tem internet, e quando tem, é de forma limitada”, alerta.
E mesmo com as limitações, já são várias iniciativas ligadas à tecnologia acontecendo no campo. “Nós temos drones com sensores no visível, sensores em outras bandas espectrais, que permitem analisar falhas de plantio, analisar plantas invasoras, avaliar estresse hídrico e nutricional da planta. Existem sensores de ponta, que ainda não estão disponíveis pelo preço, mas que devem chegar em breve, que permitem fazer a detecção precoce de pragas e doenças”, enumera Lúcio. No caso dos drones, além dos vários sensores que são desenvolvidos para o campo, já é uma realidade o plantio por meio do equipamento, aplicação de pulverização e até para controle biológico pela liberação controlada de insetos. “Não só os drones, temos chegando aí os nano satélites. A Embraer deve lançar no próximo ano um satélite que tem uma operação abaixo do satélite convencional, com uma alta definição e uma frequência maior de visitação no campo. Com isso vamos ter uma qualidade de dados muito maior”, prevê o engenheiro.
Custo da Tecnologia Impede Uso Amplo
Mesmo com os preços caindo, utilizar recursos da tecnologia na agricultura ainda é um fator que limita o amplo acesso dos produtores rurais. O engenheiro eletrônico Lúcio André de Castro Jorge cita o exemplo dos drones. Se até pouco tempo era preciso importar um equipamento da Suíça, por até R$ 300 mil, hoje é possível adquirir um drone montado no Brasil na faixa de R$ 30 mil para uso no campo. “O preço está ficando cada vez mais acessível, mas a maioria de pequenos e médios produtores, que são em quantidade muito grande, ainda não tem acesso a essa tecnologia.
Hoje, quem se utiliza em larga escala, basicamente, são as grandes usinas, grandes produtoras de soja e milho, de algodão, estes sim estão com equipes, têm técnicos e conseguem aplicar a tecnologia de imediato. Para os demais, de uma forma em geral, há acesso à tecnologia via universidades, startups que estão no campo, feiras agropecuárias de demonstração a todo momento, e existem linhas de fomento até para comprar drones”, explica, antes de aconselhar quem pensa em dar os primeiros passos no uso da tecnologia no campo: “Primeiro é preciso se informar. Participe de eventos, visite quem já usa. A partir daí, a melhor forma de começar é fazer um teste na sua área, você separa um pedaço e começa a fazer parcerias com universidades, com institutos de pesquisa. Aprenda com os vários estágios. O drone, por exemplo, tem vários tipos, dos mais simples aos mais caros, mais sofisticados, comece com o menorzinho, com câmera no visível e vai enxergando, vai ganhando o mínimo de noção de como usar aquela tecnologia para depois, então, passar para outros estágios”.
Conhecimento Agronômico
Todo avanço da tecnologia no campo vem com uma premissa básica, segundo Lúcio: ajudar o produtor rural em suas tomadas de decisão. “O grande desafio daqui para frente, a partir destes avanços nos sistemas de monitoramento e coleta de dados, é criar um sistema de inteligência artificial para aumentar o potencial de produtividade de forma ordenada”, avalia. Mas, para obter o sucesso nestas decisões, não basta apenas usar e abusar dos recursos tecnológicos. “Apesar da inteligência artificial ter avançado significativamente, falta efetivamente juntar estas técnicas de inteligência, que vai minerar os dados, com o conhecimento agronômico. O processo no campo é complexo, depende do clima, depende da variação do preço dos insumos, depende do solo, da máquina pesada que passou na terra, são várias tomadas de decisão, então não adianta ter um sensor mapeando produtividade ou um drone tirando imagens de índice de vegetação e dizer que só com aquilo você vai determinar uma ação. Muitos aplicativos que estão chegando, a exemplo de empresas inglesas, espanholas, australianas e norte-americanas, têm trazido soluções em cima dos dados, porém, elas não embutem o conhecimento agronômico e este é o fator que deve avançar nos próximos anos”, projeta Lúcio.
Por Angelo Davanço