
Ilustrador de Araraquara investe no desejo de criar pousada e viver da produção de azeite orgânico no interior de Minas Gerais
Quem é que nunca acordou um dia com uma vontade imensa de mudar totalmente o estilo de vida? Mas mudar mesmo, ir para outra cidade, descobrir novas atividades produtivas, fazer novos amigos? Para o ilustrador Lucas Limas, 40 anos, morador de Araraquara, no interior paulista, este sonho veio à tona em uma viagem de volta para casa, mais precisamente em um trajeto de quase 560 quilômetros. “Fomos visitar um casal de amigos que tem uma propriedade em Alagoa, na região da Serra do Papagaio, em Minas Gerais, e nos encantamos pelo lugar.
Como a viagem é longa, mais de oito horas de estrada, já no caminho começamos a pensar seriamente no assunto de nos mudarmos para lá, avaliando os possíveis problemas e as soluções para eles”, relembra Lucas.
Isso foi em 2015. Não demorou muito e, com a ajuda de parentes, a família Lima comprou um pedaço de terra de 24 hectares numa região cercada por verde, corredeiras e cachoeiras – só na propriedade, são quatro quedas d’água. E lá foram Lucas, a mulher Lilian, de 40 anos, e as crianças Manuela, 11, e Caetano, 8, viver o sonho da vida em contato com a natureza. “O que nos motiva sempre é o desejo de uma vida mais plena, mais perto da natureza, uma coisa meio hippie, mas que é um estilo nosso”, justifica o ilustrador.
Da compra da terra até hoje, Lucas já construiu uma primeira casa, o pontapé inicial do projeto de construir uma pousada no alto da serra. Alagoa é vizinha de uma cidade muito procurada por turistas, chamada Aiuruoca, mas que, devido ao acesso difícil, ficou preservada e agora começa a se abrir para o turismo. O grande potencial da cidade é a produção de queijos, que ganhou fama há dois anos, quando um produto local foi premiado com o terceiro lugar em um concurso na França.
Queijo Premiado na França
Em junho de 2017, o queijo da marca D’Alagoa foi
Medalha de Bronze no Mondial du Fromage, um concurso
internacional de queijos realizado em Tours,
na França. O produto mineiro se destacou entre 600
queijos de 42 países. Quatro meses depois, foi Medalha
de Prata no 3º Prêmio Queijos Brasil, passando
por mais de 400 concorrentes. O sucesso fez a fama
de Alagoa. “A cidade vive em torno da produção de
queijo, são poucos os que se dedicam a outras atividades
produtivas”, explica Lucas Lima.
A tradição de produção de queijos no município
começou com o italiano Pascal Poppa, em 1920,
que viu grande semelhança entre o clima de Alagoa
com sua terra natal, Parma. E assim surgiu o legítimo
queijo da Serra do Papagaio. “Diferente do parmesão,
que precisa de um ano de cura antes de ser
consumido, o queijo em Alagoa é consumido fresco,
apenas cinco dias depois de sua fabricação. Ele também
é uma delícia curado, quanto mais curado, mais
picante”, escreveu Lucas em seu blog.
Comércio e Orgânicos
Enquanto o sonho da pousada Casa de Mitra não se concretiza, Lucas põe a mão no mouse e na terra para tocar outras atividades em Alagoa. Ele criou um site onde comercializa queijos, azeites e cervejas artesanais produzidos na região. A entrega é pelo Correio, mas também pode ser em mãos, para os amigos. “Quando vou para lá, volto com os pedidos feitos pelo pessoal de Araraquara”, diz o ilustrador. Além do comércio eletrônico, o site altamantiqueira. com.br virou um veículo de divulgação da culinária e da cultura de Alagoa, com fotos, crônicas, dicas e, claro, ilustrações. No último dia 1º de março, Lucas e colaboradores lançaram uma publicação impressa, um grande mapa todo feito à mão, uma espécie de guia do município, com link para visualização no Google Earth.
Além do site e das publicações ilustradas, Lucas Lima se dedica a preparar a terra para a realização de um outro sonho – o de produzir alimentos. Para isso, há dois anos cuida de 300 pés de oliveira que plantou em sua propriedade. A ideia é que, daqui mais três anos, se inicie a produção de seu próprio azeite de oliva orgânico. Logo mais, será a vez de frutas silvestres, como morango, mirtilo e framboesa ganharem seu espaço nas terras da família Lima. “Não temos pretensões de sermos grandes produtores. Julgamos ser o mais correto cuidar bem da terra, sem o uso de venenos para, assim, deixarmos uma boa herança para as nossas crianças e toda a geração futura”, diz Lucas.